Presente em diversos pratos típicos no Brasil, o Alho, botanicamente conhecido como Allium sativum, é uma raiz originária da Ásia, da família Liliaceae, a mesma da cebola. Por se tratar de uma planta assexuada, se reproduz facilmente por meio do plantio de seus bulbilhos, popularmente conhecidos como “dentes”. A partir desse processo uma nova planta começa a germinar até que haja um bulbo completamente formado, também chamado de “cabeça”. Cada bulbo, envolto com uma casca branca ou levemente roxa, contém de 10 a 12 bulbilhos.
Extremamente apreciada por diversos povos há milênios, a planta traz consigo mais de 5.000 anos de história. Há relatos de que os egípcios foram grandes consumidores de alho por acreditarem que o alimento fortalecia e reduzia a incidência de doenças em escravos.
Além de agregar sabor na culinária, o Alho possui inúmeros benefícios à saúde. Hipócrates já utilizava para fins medicinais, mas o primeiro a descrever uma das principais propriedades dessa raiz foi Luis Pasteur no século XIX. O renomado cientista francês observou no alimento um grande potencial bactericida, posteriormente utilizado como medicamento na Primeira Guerra Mundial.
A aplicação do Alho não parou por aí. À medida que novas pesquisas começaram a surgir a raiz teve seus constituintes desvendados e logo seus benefícios foram comprovados cientificamente. Sabe-se que o principal componente do alimento é o Alliin, uma substância que confere aquele odor de Alho fresco quando o cortamos. Essa reação é resultado de uma enzina, a Alliinase, que converte Alliin em Alicina, um poderoso antioxidante.
O Alho também é rico Vitamina C, Vitaminas do Complexo B e possui minerais como Enxofre, Zinco e principalmente Selênio. Em sua composição encontramos ainda o Ajoene, o grande foco das pesquisas atuais sobre os benefícios da raiz. Um estudo publicado na revista Nature Scientific Reports em 2017, realizado pela Universidade de Copenhagen, na Dinamarca, demonstrou que essa substância é capaz de reduzir a expressão gênica dos fatores de virulência mais relevantes de dois patógenos oportunistas, Staphylococcus aureus e Pseudomonas aeruginosa, responsáveis por grande parte das infecções hospitalares. O principal autor do estudo, Tim Holm Jakobsen, enxerga a descoberta como uma oportunidade para o surgimento de novos medicamentos que auxiliem na resistência aos antibióticos já existentes.
No cotidiano, é comum que as pessoas conheçam e utilizem das propriedades medicinais do Alho devido à sabedoria popular que envolve o alimento. Para infecções de garganta, por exemplo, o Chá de Alho pode atuar como um grande aliado por suas propriedades antissépticas e bactericidas. Seja para combater gripes, resfriados e tosse, colaborar na expectoração de fluidos ou nas crises de bronquite, o Alho é eficaz de inúmeras maneiras.
Consumir o alimento diariamente pode diminuir os riscos de infarto, reduzir os níveis de LDL (colesterol ruim), melhorar a circulação sanguínea, decair a formação de agregados plaquetários e auxiliar contra a hipertensão por meio da vasodilatação. Colabora também na redução dos níveis de glicose e na melhoria das respostas insulínicas do organismo.
Em caso de feridas na pele como cortes, picadas de inseto ou espinhos esfregar um dente de alho cortado ajuda a aliviar a dor e a desinfetar o local, impedindo o desenvolvimento de inflamações. Acredita-se que o alimento tenha propriedades anticancerígenas devido ao alto nível de antioxidantes presentes na sua composição. Estudos em animais mostraram redução no desenvolvimento de células cangerígenas, ativação intensificada do sistema imunológico e melhor funcionamento do fígado com a ingestão frequente.
A quantidade diária de consumo ainda não foi detalhadamente estabelecida, entretanto boa parte dos nutricionistas recomenda que não ultrapasse 2 dentes ou 4 gramas, tendo em vista que a ingestão excessiva pode resultar em mau-hálito, complicações gastrointestinais como azia, gases, dor no estômago, vômitos, diarreias e até mesmo hipotensão, hipoglicemia, dores de cabeça e tontura. Os demais efeitos colaterais conhecidos estão diretamente relacionados a pessoas que possuem alergia ao alimento.
Igualmente a outros alimentos, quando aquecido a altas temperaturas o Alho perde boa parte das suas propriedades. Sendo assim, o ideal é consumi-lo cru para garantir seus benefícios ou adicioná-lo na finalização do prato ao invés de refogá-lo no início do preparo. Ele pode ser utilizado em dentes inteiros apenas para agregar sabor, para aromatizar azeites e vinagres, fatiado em lâminas ou triturado junto a saladas, leguminosas e grãos. Uma outra forma de consumir o alimento é através do Alho Negro, em que a raiz passa por um processo de fermentação que intensifica seus componentes em temperatura e umidade controlados. O resultado final apresenta sabor e cor impressionantes.
É dispensável dizer que consumir Alho faz muito bem a saúde. Isso porque no Brasil são produzidos mais de 140 mil toneladas do alimento anualmente, grande parte para consumo interno. Em um país em que o Alho encontra-se enraizado na cultura alimentar é necessário apenas que ele seja tão vislumbrado por suas propriedades quanto pelo seu sabor.