Originário da América Tropical, o Cacaueiro é uma árvore da família Malvaceae, que gera o Cacau, um dos frutos mais valorizados atualmente e considerado sagrado em muitas culturas. Seu nome científico, Theobroma cacao (“manjar dos deuses”), descrito em 1753 pelo botânico Carolus Linneu, está intimamente relacionado ao cunho religioso que envolve o alimento, desde a sua descoberta.
O cacau já era amplamente cultivado pelos índios quando os primeiros colonizadores chegaram à América. Os Astecas, que consumiam o fruto em forma de bebida, acreditavam fielmente na origem divina do alimento. Seu plantio e colheita incluíam até mesmo rituais religiosos. O Cacau era tão importante para esses povos que suas sementes eram utilizadas como moeda.
Com a chegada de Cristóvão Colombo na América, o Cacau passou a ser vastamente explorado, até alcançar todos os países do mundo. Por ter exigências específicas de solo e clima, foram feitas diversas tentativas de cultivo do Cacaueiro em países da Europa, sem sucesso. O cultivo do Cacau no Brasil iniciou-se em 1679 e desde então a produção vem crescendo consideravelmente. Para um bom desenvolvimento da planta são necessários solos ricos, profundos, clima quente e úmido, acima de 25ºC, condições comumente encontradas no nosso país, o que fez do Brasil o 5º maior produtor mundial de Cacau, principalmente no estado da Bahia.
Inicialmente o Cacau era utilizado apenas como fruto. Somente em 1700, ao alcançar a França e a Inglaterra o açúcar foi incorporado e o que conhecemos como Chocolate começou a ganhar forma. Produzido à partir das amêndoas ou sementes fermentadas e torradas do Cacau, o Chocolate passou a ser a principal forma de utilização do fruto. Os processos, aperfeiçoados com o passar dos anos, envolvem a transformação do fruto do Cacaueiro em um dos alimentos mais popularizados do mundo.
Após a retirada das 20 a 40 sementes presas à polpa de cada fruto, é realizada uma etapa conhecida como fermentação, em que por cerca de 8 dias as sementes permanecem cobertas em caixotes de madeira, onde perdem parte da sua acidez. Em seguida elas passam por um processo de secagem e de separação por tamanho e qualidade, são ensacadas e enviadas às indústrias responsáveis por produzir o Chocolate.
A partir dessa etapa inicia-se o processo de limpeza, seguida da torra e da trituração, onde são formados os Nibs de Cacau. Com o aquecimento, os Nibs, ricos em gorduras, são transformados em um líquido, conhecido como Licor de Cacau, que já pode ser utilizado na produção de Chocolate, Cacau em pó ou Manteiga de Cacau.
Para o Chocolate são adicionados além do Licor ou do Cacau em pó, Açúcar e Leite. Essa mistura pode ser homogeneizada por dias, dependendo da textura que se deseja obter no resultado final. A adição de ingredientes varia de acordo com o tipo de Chocolate a ser produzido. Enquanto no Chocolate ao Leite a porcentagem de Cacau é de cerca de 10% a 35%, no Chocolate Amargo essa quantidade pode atingir 80%. Quanto maior o volume de Cacau, menos açúcar o Chocolate terá na composição.
Visto atualmente como um colaborador na manutenção da saúde, os Chocolates Amargos, principalmente acima de 70%, aparecem até mesmo em dietas de restrição calórica por possuir benefícios únicos. Rico em Epicatequinas, um importante flavonoide com propriedades anti-hemorrágicas e anti-inflamatórias, o Cacau pode ajudar na absorção de Vitaminas e até mesmo contribuir na produção de colágeno do organismo. Os flavonóides atuam ainda baixando os níveis de LDL na corrente sanguínea, o “colesterol ruim”, sendo assim, reduzem os riscos de Acidente Vascular Cerebral (AVC) e infarto pela formação de placas de ateroma nos vasos.
O potencial antioxidante do Cacau é notável. Por prevenir a formação de radicais livres ele evita a degeneração celular e a proliferação desordenada, responsáveis pelo câncer. Segundo a Academia Americana de Neurologia, essa propriedade torna o consumo regular de Chocolate favorável na prevenção de doenças neurodegenerativas como o Alzheimer, principalmente pela melhoria do fluxo sanguíneo do cérebro.
O aumento da oxigenação cerebral ao consumir Chocolate regularmente foi comprovado cientificamente por um estudo realizado na Universidade do Norte do Arizona, em que por meio de encefalogramas, os pesquisadores analisaram as atividades cerebrais de 122 voluntários, concluindo que pessoas que consomem Chocolate, principalmente após o almoço, melhoram seu estado de alerta.
Além de delicioso, um Chocolate com porcentagens consideráveis de Cacau pode colaborar no emagrecimento. Quando associado a exercícios físicos, o efeito termogênico desse alimento acelera o metabolismo, aumentando o gasto energético. O refinamento na liberação de Insulina e o controle dos hormônios de fome e saciedade, Grelina e Leptina, observados em um estudo na Universidade da Califórnia em 2012, concluiu que pessoas que consomem pequenas quantidades de Chocolate, pelo menos duas vezes na semana, conseguem reduzir seu Índice de Massa Corporal (IMC), quando comparados ao grupo controle. Esse potencial também está relacionado à quantidade de Cafeína, Metil-xantina e Teobromina do alimento, que auxiliam na perda de peso.
E não é atoa que uma enorme sensação de prazer nos invade ao comer Chocolate. A redução dos níveis de estresse e o aumento da sensação de bem estar, principalmente em mulheres no período pré-menstrual, se dá pelo Triptofano presente no alimento, que aumenta a liberação de hormônios como a Serotonina, Teobromina e Anandamida.
Os efeitos colaterais relacionados à ingestão de Cacau e consequentemente de Chocolate estão mais associados à intolerância à lactose, reações alérgicas a qualquer componente da fórmula ou doença celíaca pré-existente. É importante que pessoas com restrições alimentares relacionadas ao leite consumam apenas Chocolate à base de outros componentes, como por exemplo, de soja. Por conter açúcar e cafeína o consumo não é recomendado por crianças abaixo de dois anos. Gestantes devem ingerir o alimento com moderação.
Engana-se quem pensa que comer Chocolate todos os dias faz mal a saúde. Quando ingerido em quantidades controladas, ele pode ser considerado até mesmo um Super Alimento. A ingestão diária recomendada é de cerca de 30 gramas, o equivalente a 3 pequenas porções, que fornecerão pouco menos de 180 kcal. Uma ótima notícia para os Chocólatras, que podem consumi-lo com moderação, mas sem culpa.