Quem frequentemente sofre com aquela sensação de estufamento, dor abdominal e muitas cólicas sabe o quanto é desconfortável ter inchaço abdominal. Por ser um produtor majoritário de neurotransmissores essenciais na manutenção do bem estar como Serotonina e Dopamina, o funcionamento correto do intestino é de grande importância. Muitas vezes os desconfortos são tão frequentes que não conseguimos fazer uma associação do exatamente causa esse mal estar, tão relevante que pode afetar a produtividade e até mesmo o humor. De fato, algumas pessoas têm uma tendência maior que outras na geração de gases intestinais, mas afinal, como podemos reduzir esse quadro?
Existem diversos fatores relacionados ao inchaço abdominal, todos eles relacionados à ingestão de alimentos que podem favorecer ou reduzir essa sensação. A sensibilidade a alimentos específicos, assim como a qualidade da microbiota intestinal estão diretamente associadas à forma como o sistema digestivo do indivíduo atua. Uma alimentação pobre, com baixa ingestão de fibras, água e com elevada quantidade de carboidratos simples geralmente vem acompanhada de inchaços abdominais recorrentes.
Os gases intestinais são formados durante o processo fermentativo dos alimentos na digestão. Por ter um sistema digestivo monogástrico, os humanos, assim como outros animais, não conseguem realizar a digestão de algumas substâncias como a Rafinose e a Estaquiose, por exemplo. Enquanto o açúcar comum é formado por apenas duas moléculas, glicose e frutose, a Rafinose é formada por três (galactose, glicose e frutose) e a Estaquiose por quatro (duas moléculas de galactose, uma de glicose e outra de frutose). A inexistência da enzima responsável por realizar a hidrólise faz com que esses dois Oligossacarídeos passem pelo intestino delgado sem sofrer alterações. Somente ao alcançar o intestino grosso as moléculas começam a servir de fonte de alimento para microrganismos procariotos, que através de um processo fermentativo absorver os nutrientes e liberam gases, principalmente Gás Carbônico e Gás Metano.
Os principais alimentos que apresentam essa característica são as leguminosas como o feijão, grão de bico e soja, considerados ricos em Rafinose. Outros alimentos que contém a substância em menor concentração são o brócolis, a couve-flor e o repolho. Para reduzir, em parte, os efeitos negativos da Rafinose, é recomendado que antes do cozimento esses alimentos sejam deixados de molho por no mínimo 12 horas. Algumas variedades, como o Feijão Azuki, possuem naturalmente uma menor quantidade da substância e pode ser utilizado por pessoas extremamente sensíveis ao processo fermentativo que ocorre na porção final do intestino.
Outro fator que deve ser levado em consideração é a intolerância alimentar ao glúten ou à lactose. A formação de gases em excesso ao ingerir alimentos derivados do leite ou ricos em glúten pode ser um importante sinal de alergia ou sensibilidade causada pela irritação da mucosa intestinal. A ingestão frequente de edulcorantes também tem uma relação direta com as flatulências pela dificuldade de digestão dessas substâncias industrializadas presentes em alimentos zero açúcar pelo nosso organismo.
Também é comum que por hábitos alimentares ruins, deficiências nutricionais ou doenças como Síndrome de Crohn e Síndrome do Intestino Irritável, o indivíduo apresente uma permeabilidade intestinal alterada, ou seja, uma alteração na função de barreira da mucosa intestinal que pode tanto reduzir a absorção de nutrientes essenciais quanto facilitar a passagem pouco seletiva de diversas substâncias não desejáveis. A alteração da permeabilidade intestinal ocorre devido a inflamações na parede do órgão, microbiota em disbiose, consumo de alimentos que estimulem a irritação como os alergênicos, álcool ou medicamentos que causem prejuízos a esse ambiente.
O desenvolvimento de uma microbiota saudável é um dos primeiros passos para que a digestão e a absorção dos nutrientes ocorra de maneira eficaz, dessa forma, é essencial a inserção de probióticos e também de prebióticos. Alguns exemplos de probióticos naturais são o Kefir e a Kombucha, que podem ser facilmente inseridos na rotina e irão fornecer quantidades satisfatórias de microrganismos para a colonização intestinal. Também é possível manipular cepas específicas em laboratórios que sejam adequadas à necessidade individual, mas somente a ingestão desses microrganismos não é o suficiente. São necessários bons hábitos e uma alimentação rica em prebióticos, encontrados principalmente na banana, tomate e nos cereais integrais. Esses compostos serão os grandes responsáveis por nutrir os microrganismos probióticos.
Identificar o tipo de alimento ou situação que causa o inchaço abdominal é essencial para que sejam tomadas as atitudes corretas. Ao notar uma hipersensibilidade a determinado alimento é importante que seja levantada a hipótese de intolerância. O acompanhamento de um nutricionista que auxilie na construção de hábitos alimentares mais saudáveis é uma ótima alternativa para o desenvolvimento de um cardápio individualizado que leve em consideração todas essas questões.