Nos últimos anos, a vilanização dos carboidratos tem contribuído para o surgimento de diversas estratégias baseadas na restrição alimentar desse macronutriente. Desenvolvida no início do século XX para atuar de forma complementar ao tratamento de pacientes com epilepsia, a Dieta Cetogênica foi um dos modelos que popularizou, por apresentar resultados surpreendentemente rápidos na perda de peso.
De modo geral, nosso organismo funciona em Glicólise, uma sequência de reações químicas que transforma a glicose que ingerimos através dos carboidratos em energia. A intenção da Dieta Cetogênica é fazer com que o organismo trabalhe em Cetose, um método de obtenção de energia através da quebra de ácidos graxos vindos da gordura que ingerimos realizada pelo fígado, gerando Corpos Cetônicos para substituir a glicose.
Por meio de um processo evolutivo nosso organismo adaptou-se a armazenar moléculas energéticas do que ingerimos em excesso, para utilizar em momentos de escassez. Sendo assim, a Cetose já é realizada em situações estratégicas, como quando passamos longos períodos sem nos alimentar ou quando ingerimos baixas quantidades de carboidrato, fonte rápida de energia.
O processo de emagrecimento consiste em queimar esses famosos “estoques de emergência”. A Dieta Cetogênica atua estimulando de forma intensa a queima de gorduras vindas da alimentação e do armazenamento, através dos tipos de alimentos ingeridos e do intervalo aplicado entre as refeições.
Em pacientes epiléticos, a Dieta Cetogênica atua contribuindo para a diminuição do número e da intensidade das crises através da escassez de glicose, principal molécula na nutrição cerebral. Acredita-se que com o menor aporte de glicose, as atividades cerebrais tornam-se mais brandas.
Em pacientes com neoplasia cerebral, as pesquisas mostraram resultados igualmente positivos, tendo em vista que a glicose atua como fonte de alimento para a multiplicação de células tumorais. Comprovou-se que a redução de carboidratos conjugada aos tratamentos convencionais conseguiu desacelerar o desenvolvimento do tumor nesse tipo específico de câncer. Quando relacionada a outras neoplasias, a eficiência da Dieta Cetogênica é controversa. Segundo pesquisadores são necessários mais estudos que viabilizem essa aplicação para uma definição concreta.
Com relação a sua realização, diferente de outros modelos, na Dieta Cetogênica não existe um cardápio pré-definido, mas uma lista de alimentos permitidos e uma quantificação de macronutrientes que pode variar de acordo com a orientação nutricional. A ingestão de carboidratos é extremamente baixa, bem inferior a Dieta Low Carb, representando de 10 a 15% da alimentação diária. Já as gorduras, os principais macronutrientes da dieta, tem um aumento expressivo de 60 a 70%, enquanto as proteínas atingem de 15 a 20%.
Carboidratos simples (arroz, açúcar, farinha, pão, massas) são completamente excluídos da alimentação, assim como tubérculos (batatas, inhame, mandioca) e leguminosas (feijão, ervilha, grão de bico, soja). Já vegetais, carnes, peixes, ovos, óleos, azeite, leite e seus derivados, oleaginosas, abacate, coco, cereja e morango têm ingestão permitida.
Os principais benefícios da Dieta Cetogênica são o controle metabólico através da redução dos níveis de insulina na corrente sanguínea, o que pode colaborar positivamente no quadro de resistência à insulina pela baixa disponibilidade de glicose. Além de reduzir os riscos de desenvolver diabetes, é notável que haja melhoria na regulação dos níveis dos hormônios relacionados à fome e saciedade, grelina e leptina, respectivamente, já que a própria composição dos alimentos permitidos é de digestão lenta.
Embora possa ocorrer perda de peso nos primeiros dias, segundo especialistas o tempo mínimo de realização para obter resultados consistentes é de 2 a 3 semanas, não ultrapassando 6 meses de duração contínua. Por ser uma estratégia complexa e rígida, o período de aderência médio à Dieta Cetogênica é de cerca de 40 dias.
Apesar de apresentar uma boa aceitação em pacientes epiléticos, a Dieta Cetogênica pode causar sintomas no período de adaptação como falta de atenção, fadiga, dores de cabeça, mal estar e instabilidade de humor, que podem atrapalhar a rotina no ambiente de trabalho e reduzir a energia para a realização das atividades. Isso ocorre nos primeiros dias, devido à baixa ingestão de carboidratos, algo totalmente incomum na rotina alimentar ocidental, porém em cerca de 10 dias o organismo já se adaptou completamente. Pacientes com problemas renais necessitam de recomendação médica quanto à realização e podem ter a Dieta Cetogênica contraindicada por sobrecarga do órgão.
Em grande parte dos casos, a perda de peso é considerada eficiente, porém pode ocorrer juntamente à perda de massa muscular, sendo assim é preciso avaliar todos objetivos pessoais que levem a tomada de decisão por esse modelo.
Por se tratar de uma dieta restritiva que necessita de controle de macronutrientes, é fundamental que haja o acompanhamento de um profissional especializado na área, levando em consideração que o melhor tipo de dieta é o que mais se adequa a realidade de cada pessoa e que apesar da Dieta Cetogênica proporcionar resultados expressivos, outras intervenções igualmente eficazes podem ser realizadas pelo profissional, visando o mesmo propósito.