Dois úteros!? Isso é possível? Entenda do que se trata e como ocorre essa malformação uterina

Anomalias congênitas uterinas são pouco vistas na medicina ginecológica. Estima-se que cerca de 5,6% das mulheres apresentem esse tipo de malformação, que por muitas vezes passam despercebidas durante a vida, por se apresentar na maior parte dos casos assintomática.

O desenvolvimento de dois úteros ocorre ainda no embrião, quando no momento da fusão dos ductos müllerianos acontece uma falha. Ainda é desconhecida a causa que leve a essa situação incomum, mas acredita-se que seja hereditária e que tenha relação com o gene recessivo.

Existem diversos graus de acometimento relacionados à fusão dos ductos müllerianos que podem gerar alterações uterinas distintas, sendo as principais o Útero Didelfo, caracterizado por duas cavidades uterinas e dois colos separados por um septo vaginal, e o Útero Bicorno, que apesar de possuir duas cavidades uterinas apresenta apenas um colo, na maior parte dos casos.

Para as mulheres que apresentam esse tipo de malformação, a descoberta ocorre principalmente na gestação, entretanto após a primeira menstruação alguns sintomas como corrimento constante, espesso e esbranquiçado, dor abdominal, dificuldade na introdução de absorventes internos ou aplicadores vaginais, abortos espontâneos sucessivos ou presença de estrutura palpável na região pélvica podem surgir. Exames de imagem como a histeroscopia associada à ultrassonografia colaboram para conclusão do diagnóstico.

Através da inspeção intravaginal pela introdução de uma câmera e do exame de ultrassom 2D ou 3D de forma complementar é possível verificar o tipo de anomalia. Para muitos especialistas a Ressonância Magnética se trata do melhor método de imagem nesses casos, já que através desse exame é possível identificar os contornos interno e externo do órgão, entretanto devido aos custos ela acaba sendo pouco utilizada.

Apesar de não estar relacionada à infertilidade, esse tipo de anomalia frequentemente causa abortos. Pela ausência de septo, o Útero Bicorno é o que traz o menor risco de mortalidade ao bebê, porém em ambos a gravidez é considerada de risco. No caso do Útero Didelfo, é recomendado que seja feita a retirada do septo vaginal que divide o colo, a principal causa de abortos consecutivos.

Recentemente pudemos observar na mídia relatos de mulheres que apresentavam Útero Didelfo ou Bicorno e que descobriram a malformação durante a gestação. No Brasil, o último caso aconteceu em 2011 em Alfenas, sul de Minas Gerais, quando uma mulher com Útero Didelfo deu à luz a gêmeos, gerados em cavidades uterinas separadas, ou seja, os dois ovários liberaram óvulos que foram fecundados ao mesmo tempo.

A situação mais surpreendente aconteceu recentemente em Bangladesh, na Ásia, quando uma mulher com Útero Didelfo que havia dado à luz a um bebê foi levada ao hospital 26 dias depois, com dores abdominais que na verdade se tratavam de outra gestação, dessa vez de gêmeos. Os médicos que realizaram a cesariana dos gêmeos relataram que o primeiro bebê se formou em uma das cavidades uterinas, enquanto os gêmeos se desenvolveram na outra. A mulher, que nunca havia feito exames de imagem durante a gestação, engravidou em momentos diferentes.

Isso explica que de fato a gestação em apenas um dos lados do útero pode ocorrer, sendo inclusive mais comum que as anteriores, tanto no Útero Didelfo, quanto no Útero Bicorno. Nesses casos, o útero que não está em fase gestacional pode seguir menstruando normalmente.

Apesar de serem casos raros, as anomalias uterinas são responsáveis por cerca de 15% dos abortos espontâneos, morte fetal, malformação do feto e descolamento prematuro da placenta. O espaço uterino reduzido pode trazer complicações ao bebê e evoluir para partos prematuros. Sendo assim, é essencial que haja acompanhamento médico e associação da clínica da paciente aos exames de imagem, para aumentar as chances de uma gestação bem sucedida e do desenvolvimento saudável do bebê.

Compartilhar esse arquivo
Share on Facebook
Facebook
Tweet about this on Twitter
Twitter
Share on LinkedIn
Linkedin
Share on Whatsapp
Whatsapp
Autor

Instituto Ortomolecular

Deixe um comentário

Seu endereço de e-mail não será publicado. Campos marcados são obrigatórios.