Quando pensamos em saúde e bem-estar, a manutenção ativa da qualidade do sono é uma das variáveis mais importantes e mesmo assim negligenciada. Curar-se de uma doença, colher os benefícios de uma atividade física, manter a mente atenta e produtiva… Tudo isso depende de um sono adequado.
Sabemos que a vida moderna, com poderosas fontes de iluminação artificial, estresse elevado, carga de trabalho, responsabilidades e cobranças acentuadas vem contribuindo para redução do sono das pessoas, tanto em quantidade, quanto em qualidade. De todas as condições fisiológicas e neurológicas envolvidas nesse processo, uma das mais importantes e melhor elucidada até o momento é a ação da Melatonina no controle do Ritmo Circadiano. Também conhecido como Ciclo Circadiano, esse ritmo trata-se do período de vinte e quatro horas em que se baseiam os nossos ciclos biológicos e da maior parte dos seres vivos, incluindo as fases do sono.
A Melatonina é um hormônio sintetizado naturalmente pelo nosso corpo, sendo derivada do neurotransmissor Serotonina através do triptofano proveniente da ingestão. Ela é produzida na glândula pineal, localizada no cérebro, sendo responsável por induzir o sono e controlar seus estágios ao longo da noite. Seu pico ocorre por volta das 02:00h às 04:00h e após esse período os níveis tendem à cair até sua completa degradação através da exposição à luz. Sua produção se inicia quando os olhos detectam ausência de luz, o que fisiologicamente determina o momento de dormir dos humanos e também de muitas outras espécies.
Com o excesso de luz artificial e outras condições supracitadas, a produção desse hormônio tende a reduzir e o organismo acaba por pagar o preço com a perda de sono e outras complicações. Fatores como depressão, ansiedade, irritabilidade e sedentarismo também parecem influenciar diretamente na produção adequada de Melatonina. Além de sua fundamental importância no início e na manutenção do sono, a Melatonina é um dos principais agentes antioxidantes no nosso organismo, sendo comparada pela ciência às principais enzimas que desempenham essa função. Por agir na redução de radicais livres, a Melatonina é considerada um neuroprotetor eficaz, prevenindo doenças neurodegenerativas como Alzheimer. Também atua diretamente no sistema imunológico, regulando a atividade de células de defesa especializadas no combate de infecções, reduzindo respostas autoimunes.
Sendo assim, ter níveis adequados de melatonina e sono previne o envelhecimento precoce, nos torna mais resistentes a possíveis patógenos e potencializa o combate a doenças. Estudos têm demonstrado inclusive a capacidade da Melatonina em inibir o crescimento desenfreado de células tumorais através da regularização da multiplicação celular, característica de células cancerígenas, que tendem a se multiplicar de forma desordeira e acelerada.
Possuindo papel fisiológico tão importante, a Melatonina passou a ser sintetizada artificialmente pela indústria farmacêutica e vem sendo aplicada como suplemento, principalmente nos Estados Unidos. Por aqui, sua comercialização ainda não é permitida livremente pela ANVISA devido à alegação de que seus efeitos carecem de estudos mais esclarecedores, porém é possível importar ou manipular sob receita médica.
Ao pensar na suplementação, é importante reforçar que a produção natural e saudável do hormônio pela glândula pineal é de 0,1 a 0,5 mg por noite, enquanto a maioria dos suplementos oferecem doses altas que vão de 1,0 a 3,0 mg. Seus efeitos benéficos não são aparentes em indivíduos saudáveis, sendo eficaz apenas nos que possuem insônia ou outros distúrbios do sono relacionados a esses níveis hormonais, por isso é fundamental orientação médica especializada para iniciar o uso.
A principal vantagem da utilização de Melatonina quando comparada a medicamentos hipnóticos ou psicotrópicos (como benzodiazepínicos), é a manutenção da conformidade dos níveis naturais de sono e fases do ciclo circadiano. Ela pode ser utilizada em pacientes que possuam uma baixa produção natural como os idosos, em pessoas que sofrem com alterações dos ciclos do sol como quem trabalha durante a noite ou para reduzir os impactos da alteração de fuso horário, conhecido como jet lag.
O suplemento de Melatonina também é extremamente consumido por atletas, tendo seu uso sido disseminado no meio esportivo pelo fisiculturismo, levando em consideração a importância do sono e seus hormônios para construção de massa muscular e queima de gordura. A ausência de efeitos adversos recorrentes como desorientação, fadiga, sonolência e dificuldade de concentração também é algo notável, porém algumas pessoas podem notar dores de cabeça e excesso de sono.
A Melatonina não é indicada para indivíduos que fazem uso de medicamentos anticoagulantes, imunossupressores, antidepressivos, anticonvulsivantes ou anti-hipertensivos por interagir diretamente com esses fármacos. Existem estudos demonstrando que a suplementação de Melatonina em indivíduos com resistência a insulina pode agravar o quadro e inclusive acelerar a evolução para Diabetes Mellitus tipo 2.
De modo geral, a Melatonina pode ser um suplemento seguro e promissor se utilizado corretamente, porém seu consumo deve ser orientado por um médico para que todas as variáveis sejam consideradas.