Após a publicação do Estudo de Gêmeos, a NASA tem demonstrado grande empenho no desenvolvimento de pesquisas que aumentem a qualidade de vida de astronautas durante as missões espaciais e que reduzam os impactos causados ao corpo humano a longo prazo.
Na investigação envolvendo os gêmeos idênticos Scott e Mark Kelly, a National Aeronautics and Space Administration, avaliou em quatro categorias distintas como a vida no espaço poderia afetar o metabolismo, a cognição, o sistema imunológico, o encurtamento dos telômeros, a bioquímica, o microbioma, dentre outros sistemas, quando comparados com a vida na Terra. O estudo envolvendo dois indivíduos com a mesma genética, vivendo em ambientes distintos durante um ano, levou a Agência a concluir que, para considerar as missões de longa duração no espaço, serão necessários estudos mais aprofundados que reduzam os impactos causados pelo ambiente hostil na saúde humana.
Foi assim que o projeto Microalgae surgiu. Com foco na produção espacial da microalga verde de água doce Haematococcus pluvialis, a principal fonte de Astaxantina já conhecida, os pesquisadores envolvidos trabalharam incansavelmente no que determinaram como um suplemento dietético de pronta disponibilidade, que auxiliaria na saúde dos astronautas durante missões de exploração de longa duração.
Na natureza e na estrutura das microalgas, a Astaxantina tem um papel bem definido. Ela funciona como um mecanismo de defesa natural que forma um escudo de proteção quando esses seres unicelulares encontram-se sobre estresse oxidativo pela destruição do seu habitat, seja por escassez de água, excesso de luz solar ou alterações de temperatura. Por ter gravitropismo positivo, ou seja, pelo seu desenvolvimento ser em resposta à gravidade, quando exposta a condições extremas como a microgravidade das estações espaciais, a H. pluvialis estaria recebendo o estímulo ideal para a produção de Astaxantina, sinalizada pela mudança da cor verde para avermelhada.
O interesse da NASA pela produção da Astaxantina no espaço correlaciona-se com o alto potencial antioxidante desse carotenoide, uma das substâncias com maior valor listadas na tabela ORAC (Oxygen Radical Absorbance Capacity), que determina em números a capacidade de cada alimento em combater os radicais livres no organismo. Apesar da produção da microalga na Estação Espacial Internacional (ISS) representar um grande avanço nas pesquisas da NASA, a suplementação da Astaxantina em cápsulas já é comumente aplicada na Terra. Sua ação contra os radicais livres relaciona a substância a prevenção do envelhecimento precoce, das doenças cardíacas e neurodegenerativas.
Os pesquisadores acreditam que ao ser utilizada pelos astronautas, o suplemento fresco de Astaxantina poderia funcionar ainda melhor que a sua versão em cápsulas, atuando contra os efeitos colaterais da radiação causados pelo ambiente, contribuindo na prevenção de lesões oculares causadas pela pressão dos fluidos corporais, nos danos ao sistema cardiovascular e também na perda de massa óssea.
Inicialmente, as microalgas foram enviadas ao Centro Espacial Kennedy, em sacos transparentes esterilizados, alocados em contêineres de lançamento e mantidos a uma temperatura de 20ºC. Ao chegar à estação, foram distribuídas nas instalações de crescimento de plantas da Veggie, onde foram observadas e registradas através de fotos durante 20 dias. Após a mudança de cor, as microalgas foram recolhidas e enviadas novamente à Terra, encaminhadas diretamente para a Universidade do Texas, em Austin, onde farão parte do acervo da Coleção de Culturas de Algas após a finalização dos estudos envolvendo o potencial da microgravidade na produção da Astaxantina.
A equipe que coordenou o experimento, juntamente aos estudantes da Universidade do Texas, demonstrou grande otimismo com relação aos resultados, que podem mudar a perspectiva de viagens de longa duração ao espaço e contribuir consideravelmente na futura Missão Marte.