Não é novidade que a poluição do ar gera diversos prejuízos à saúde como doenças respiratórias e pulmonares. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) em um dos relatórios mais preocupantes já expostos, cerca de 7 milhões de pessoas morrem todos os anos devido à exposição a esse tipo de poluição.
Em decorrência desses dados, cientistas de todo o mundo vêm investigando demais doenças que possam estar relacionadas à qualidade do ar desde 2016. Em um estudo já bastante difundido, pesquisadores chineses haviam relacionado a poluição do ar ao surgimento da doença de Alzheimer devido ao acúmulo de micropartículas de poluição no cérebro, mas a recente descoberta de cientistas da Universidade de Chicago surpreendeu ainda mais, por associar a qualidade do ar a prevalência de doenças neuropsiquiátricas comuns nos dias atuais, a depressão e o transtorno de bipolaridade.
O estudo desenvolvido por dois anos e publicado em 20 de agosto de 2019 na conceituada PLoS Biology, englobou a análise de um enorme banco de dados de dois países com altos índices de poluição, os Estados Unidos e Dinamarca. Inicialmente, utilizando um banco de dados americano de seguros de saúde que continha informações de 151 milhões de indivíduos que haviam desenvolvido doenças neuropsiquiátricas, os pesquisadores concluíram que os municípios com a menor qualidade do ar tinham 27% mais casos de transtorno de bipolaridade e 6% mais casos de depressão que quando comparados aos municípios com qualidade do ar superior.
Para a comprovação da metodologia utilizada, o grupo aplicou o conceito desenvolvido nos Estados Unidos para avaliar 1,4 milhões de dinamarqueses. Os cientistas concluíram que nesse país, os municípios com a menor qualidade do ar apresentavam 29% mais casos de transtorno de bipolaridade que municípios com a qualidade do ar maior. Como na Dinamarca a base de dados utilizada apresentava uma grande riqueza de detalhes, os pesquisadores decidiram investigar mais afundo e avaliar essa população levando em consideração a exposição à poluição na infância dos indivíduos, para entender como a baixa qualidade do ar nos primeiros 10 anos de vida influenciaria no desenvolvimento de doenças neuropsiquiátricas na vida adulta. Os resultados mostraram que pessoas que viveram até os 10 anos em municípios com menor qualidade do ar apresentaram 50% mais chances de desenvolver depressão, 148% de esquizofrenia e 162% de transtorno de bipolaridade, quando comparados a municípios com qualidade do ar superior.
Apesar da pesquisa vislumbrar os riscos individuais e os prejuízos sociais que a poluição pode desencadear a longo prazo no âmbito das doenças neuropsiquiátricas, os fatores fisiológicos que levam ao acometimento e como eles ocorrem ainda não estão esclarecidos. Acredita-se que assim como foi observado na pesquisa desenvolvida na China, pequenas partículas de poluentes podem alcançar o cérebro através da inspiração e desenvolver pequenas inflamações crônicas que afetam o funcionamento do órgão, entretanto, por englobar em sua maioria apenas análise de dados e experimentos em animais, o estudo não confirma que a poluição possa causar diretamente as doenças descritas.
Embora haja controvérsias, a relevância das pesquisas na área chama a atenção de órgãos governamentais para medidas conjuntas que visem reduzir os poluentes liberados na atmosfera, um risco em potencial que merece prudência.