Difundidos nas primeiras décadas de 2000 e atualmente vistos como aparelhos indispensáveis, os celulares vêm tomando cada vez mais espaço na rotina do ser humano. A importância desse item é tão grande que esquecê-lo ou perdê-lo pode tornar o dia de qualquer um o verdadeiro caos. De fato, as pessoas nunca deram tanto valor a um objeto. E não estamos falando aqui de valor comercial, mas sim de tudo que ele pode conter. Grande parte das informações que acessamos diariamente ou que precisamos, encontram-se registradas no smartphone, afinal, com o celular tiramos fotos, gravamos vídeos, salvamos contatos, trocamos mensagens, acessamos aplicativos e controlamos até mesmo nossa agenda diária.
Um levantamento feito em 2017 estimou que mais de 5 bilhões de pessoas no mundo usam o celular. E quando o assunto é o tempo de tela os dados assustam ainda mais. O Brasil lidera o ranking, segundo as estatísticas da empresa Statista, que realizou uma pesquisa em 2016 e conclui que os brasileiros chegam a passar em média 4h e 48min diariamente utilizando os smartphones, tempo esse que chegou a dobrar em menos de quatro anos, desde o último estudo realizado em 2012.
Embora pareça algo inofensivo, o uso excessivo dos celulares já é comparado por especialistas ao vício em drogas. Uma pesquisa realizada com cerca de mil voluntários no Reino Unido revelou que 66% das pessoas se sentem ansiosas quando são separadas do aparelho. As mulheres e os jovens são as pessoas mais atingidas. Atualmente denominado Nomofobia, o vício em smartphones vem do inglês “No Mobile” ou “Sem Celular”, remetendo ao comportamento irracional de pessoas que se tornam totalmente dependentes ao uso do aparelho. A grande necessidade de estar sempre conectado pode trazer prejuízos psicológicos, sociais, desenvolver agressividade, irritabilidade e até mesmo crises de abstinência. As pessoas com Nomofobia geralmente demonstram incapacidade de comunicação interpessoal, até mesmo com os membros da própria família, confinando-se a comunicar-se apenas ou na maioria das vezes através do aparelho. A Nomofobia instala-se aos poucos. A compulsão pode ser observada com a verificação frequente de notificações no aparelho, com a sensação constante de que o celular pode estar vibrando e ainda pela demonstração de instabilidade emocional dependente de fatores associados ao uso do celular, como duração da bateria, pacote de dados e sinal de rede.
Os chamados “likes”, interação comumente utilizada nas redes sociais, são caracterizados como os grandes vilões do aumento do tempo de tela em adolescentes e adultos, enquanto para crianças essa incitação é proveniente de vídeos de conteúdo infantil. Com tamanha difusão dos aparelhos, limitar o uso de celulares no ambiente familiar tornou-se um assunto complexo. A percepção alterada dos pais no tempo gasto com smartphones se reflete no comportamento das crianças, que desde cedo são expostas aos aparelhos, o que acaba restringindo as possibilidades de estímulos sensoriais, de contato com a natureza e desenvolvendo adultos solitários e sedentários.
Segundo especialistas, o vício em celular está diretamente relacionado a fatores cerebrais. A necessidade tão comum de utilizar o aparelho foi estudada bioquimicamente e assemelha-se ao vício a drogas por estimular áreas do cérebro responsáveis pelos mecanismos de recompensa. Os estímulos visuais afetam a região denominada Centro de Prazer, que libera neurotransmissores como a Dopamina, que atua no aumento da sensação de bem estar e de relaxamento.
Embora frequentemente sejam publicadas pesquisas relacionadas ao aumento do tempo de tela, a introdução recente dos smartphones no dia a dia das pessoas faz com que os riscos cognitivos e sociais sejam notados apenas a longo prazo. Independente da forma como o perfil hormonal é afetado, é notável que o tempo perdido nos deslizamentos de tela em redes sociais e aplicativos de mensagens poderia ser gasto de maneiras mais saudáveis como na interação com a família, na realização de atividades físicas e na leitura. Do ponto de vista social, um dos principais prejuízos que o uso excessivo de smartphones pode trazer é o distanciamento afetivo.
Pensando nesses fatores foram desenvolvidos aplicativos que registram o tempo de tela e de acordo com as ações do usuário caracteriza a utilização como adequada, preocupante ou excessiva. O intuito é de conscientizar as pessoas por meio dessa explicitação do tempo, tendo em vista que a maior parte não tem consciência de quantas horas passa utilizando o celular. Apesar de estar longe do ideal, o apelo a esse entendimento, dos riscos que corremos com toda a tecnologia disponível ao toque dos dedos, é uma alternativa para um problema eminente, que está prestes a apresentar seus prejuízos à sociedade.