A síndrome da auto-cervejaria é uma condição rara que foi relatada pela primeira vez no meio científico no início dos anos 2000, pelo International Journal of Clinical Medicine. Após passar por um procedimento cirúrgico em 2004, um americano começou a relatar episódios frequentes de embriaguez, mesmo quando havia consumido pouca ou nenhuma cerveja. Em 2010, ao ser internado por 24 horas, os médicos do hospital ficaram chocados com os exames do paciente que revelaram aumentos nos níveis de álcool no sangue, sem que ele tivesse ingerido bebidas alcoólicas, levando ao diagnóstico da síndrome da auto-cervejaria.
Essa síndrome ocorre quando existe uma desordem na microbiota intestinal do paciente, e o fungo Saccharomyces cerevisia, utilizado como levedura para a produção de cerveja, é encontrado em grandes quantidades dentro do organismo. A elevada quantidade desse fungo no sistema digestório faz com que a pessoa passe a possuir uma verdadeira cervejaria em seu corpo: os açúcares absorvidos na alimentação através dos carboidratos são transformados em cerveja no próprio intestino da pessoa e, como consequência, esta passa a ficar constantemente bêbada. No caso do homem norte-americano, ele produzia e consumia cervejas artesanais com grande teor de fungos vivos, o que pode ter ocasionado a síndrome. Contudo, existem outros casos em que pacientes, sem nenhum contato com cerveja, desenvolveram a síndrome. Outro norte-americano, estudado pela BMJ Open Gastroenterology, desenvolveu o quadro de auto-cervejaria após um tratamento com antibióticos e, depois de muitos erros de diagnóstico e problemas com a polícia, que recusava a acreditar que o homem não consumia bebidas alcoólicas, foi diagnosticado com a síndrome rara e tratado com dietas e probióticos.
Relação entre a síndrome da auto-cervejaria e problemas no fígado
Pouco se sabe ainda sobre as causas dessa síndrome, mas o consumo de cervejas com leveduras vivas e tratamentos com antibióticos são algumas das primeiras suspeitas. Outra possível origem para a doença que está sendo estudado pelos médicos é a quantidade da bactéria Klebsiella pneumoniae. Um análise realizada com um homem chinês de 27 anos, diagnosticado com doença hepática gordurosa não alcoólica (NAFLD), mostrou que ele possuía teores altíssimos de álcool no sangue e, após análises clínicas, confirmou-se que ele era portador da síndrome da auto-cervejaria. Para descobrir a causa da doença, várias análises com amostras de fezes foram realizadas e chegou-se à conclusão de que o homem possuía elevadas quantidades da bactéria Klebsiella pneumoniae em seu organismo, que transformavam os carboidratos em cerveja no corpo do jovem. Durante essas análises, os especialistas descobriram que outros portadores de NAFLD possuíam elevadas taxas da bactéria K. pneumoniae no organismo, o que levava a quadros de síndrome da auto-cervejaria e que seriam responsáveis por desencadear os problemas no fígado dos pacientes. Segundo os pesquisadores: “Esses resultados sugerem que, pelo menos em alguns casos de DHGNA, uma alteração no microbioma intestinal leva à essa condição, devido ao excesso de produção endógena de álcool”.
Além desses casos, outras pesquisas recentes sobre o tema revelam que, pessoas que possuem diversas disfunções hepáticas e que não consomem bebidas alcoólicas têm grande probabilidade de serem portadoras dessa síndrome rara, uma vez que a auto produção de álcool no corpo danifica o fígado. As doenças do fígado associadas a tal enfermidade são cirrose, câncer, fibrose, inflamação aguda, acúmulo de gorduras e cicatrização do órgão.
Como a síndrome da auto-cervejaria ainda é um fenômeno recente e pouco estudado, diversas pessoas convivem com essa enfermidade e são diagnosticadas e tratadas de forma errada. Por isso, em casos em que haja embriaguez sem o consumo de bebidas alcoólicas, é muito importante consultar um médico e informar sobre suas suspeitas. Essa condição deixa a pessoa completamente bêbada e pode ser um fator de risco quando se está sozinho em casa, dirigindo ou operando máquinas.
A dieta como aliada no tratamento da síndrome
Como as causas da síndrome ainda não são conclusivas, os tratamentos são bastante abrangentes; Porém, todos têm como objetivo evitar o excesso de carboidratos consumidos e restabelecer uma microbiota intestinal saudável, uma vez que se sabe que em todos os pacientes tal combinação têm obtido resultados. Os médicos e especialistas recomendam restrições na dieta dos pacientes: o consumo de carboidratos deve ser de no máximo 50 gramas a cada 1000 calorias ingeridas, e, além disso, a frutose deve ser evitada, além de aumentar o consumo de “gorduras boas”, como azeite extra-virgem, óleo de coco e amêndoas. De acordo com os especialistas “Um tratamento essencial da síndrome da auto-cervejaria é a modificação da dieta que exige uma alta proteína e baixos carboidratos até que os sintomas diminuam. O açúcar é fermentado em álcool, e uma dieta que elimina açúcares simples e complexos diminuirá o álcool fermentado do trato gastrointestinal …”. Além disso, o uso de probióticos deve ser incluído no tratamento, uma vez que eles restauram e fazem a manutenção de uma flora intestinal saudável.